“Parece que no entender d’alguns republicanos, para se ser bom cidadão da Republica Portugueza, … é obrigatoriamente indispensavel ser anti-catholico, odiar os padres, que elles sejam bons ou maus, e hostilisar a egreja catholica, desacatando-a ainda no que ella tem de mais respeitavel e sagrado.
Não sabemos nem podemos atinar com as razões que os levam a pensar assim. mas parece-nos poder affirmar que se illudem a si proprios os que julgam a religião catholica facilmente destrutivel e os que dizem ser preciso exterminal-a para a Republica prosperar.
O catholicismo esta fortemente arreigado n’uma consideravel maior parte da população portugueza, e o nosso povo que adora a religião dos seus antepassados com o respeito que elles lhe incutiram, que n’ella foi educado desde o berço, que aprendeu a cumprir desde a infancia e a exercer os actos de culto e piedade que a egreja ensina, com certeza não mudará de religião com a mesma facilidade com que muda de camisa.
Há ahi quem tenha a fantasia de dizer que o povo mudará depressa de região pela mesma razão com que muda de feição politica e que a questão está a acabar com os padres e as igrejas.”
“A Justiça” 22 de Setembro de 1911
Cláudia Fernandes
claudiafernandes said:
Esta notícia, do periódico republicano “A justiça” foi publicada um ano após a Instauração da República. Aqui vê-se a visão que o articulista tinha sobre a atitude laicismo e anticlericalismo da república. Mostra muitas reservas relativamente à perseguição movida pelos republicanos ao clero e aos valores da Igreja considerando que a religião (o catolicismo) estava muito enraizado na população portuguesa. O articulista estava convicto de que o governo não podia lutar contra a religião. Considera perigosa esta “perseguição” pois não será entendida por ninguém. A única forma que o governo encontra para que a religião católica em Portugal acabe é a desacreditação das pessoas relacionadas com a religião, ora, isso podia virar-se contra os próprios republicanos!
Cláudia Fernandes